sábado, 18 de agosto de 2007

PROIM – TUR: OS NOVOS DONOS DA CIDADE VELHA :: 200$00 PARA VISITAR O FORTE DA CIDADE VELHA

Mais uma vez senti vergonha, ódio, raiva, do que se está a passar em Cabo Verde. Senti-me responsável mas dominada por um enorme sentimento de impotência.

Domingo à tarde, resolvi passear por um dos lugares para mim mais especiais, aqui em Santiago: a Cidade Velha. Saí de casa com o intuito de desfrutar de uma das vistas mais bonitas de Cabo Verde… o Vale da Ribeira Grande, que mesmo sem água se casa com o mar infinito.

Parei o carro e logo de seguida, um senhor se aproxima e me diz: senhora é preciso comprar bilhete para entrar. Bom, pensei, deve ser um valor que ajuda a manter este guarda e de certa forma, cria-se um fundo para manutenção do património, que neste dia estava a ser embalado ao som de Julio Iglesias (coincidências). O senhor entra na bilheteira e volta com os bilhetes e me diz: 200$00 cada um!!!! Por uns instantes achei que fosse o total mas não.

Aí eu lhe disse: vocês não estão propriamente a cobrar uma entrada…isto é quase um assalto! Ele me respondeu: Dona, sinto até vergonha mas são ordens e eu tenho de cumpri-las. Engraçado foi que no momento em que eu pagava os bilhetes, e resmungava, apareceram dois espanhóis, que estavam num PRADO, com matrícula amarela, e que não queriam pagar, porque *2€* era muito dinheiro.

Quantas famílias, aqui em Cabo Verde, não vivem com salários de 10.000$00 a 15.000$00?! Lembrei-me das empregadas domésticas, que normalmente ganham isso, e muitas vezes são o único sustento do lar! Elas jamais poderão visitar este lugar. Um casal com 2 filhos paga 800$00 para visitar o forte. Numa família com um rendimento de 15.000$00, estamos a falar de quase 5.5%de seu salário. Deveria dar que pensar o facto do espanhol ter achado 2€ caro e nós, para a nossa gente se achar o preço justo… Mas pensando "bem", quem é que disse que nós, nacionais, somos TURISTAS?

A nossa Cidade, recém restaurada através da cooperação espanhola e portuguesa, acaba de ser entregue, qual verdadeiro cabaz de Natal que inclui o Forte, o restaurante do pelourinho e a Pensão, à PROIM-TUR, uma empresa turística, de capital espanhol e que tem à frente uma importante figura da mencionada cooperação, espanhola, e de quem ninguém cita o nome. Por seu lado, o nosso responsável da cultura, consegue ver o lado bom da coisa, e dizer que isto é um sinal de que as relações com a Espanha vão bem.

Minha gente, eu vejo isso com outros olhos. Os nossos governantes, fecham-se em salas e decidem que parte deste país vão vender e a que preços vão fazê-lo. E eu pergunto-me: isto aqui é de todos nós? Que palhaçada é esta de conceder a uma empresa privada espanhola, a nossa Cidade Velha, um símbolo da nossa identidade e história, assim de bandeja, a uma entidade cujo único objectivo é obter lucros. Em que moldes foi feita esta concessão? Que parcela dos lucros se prevê re-investidos no mesmo local para manutenção e melhorias? Onde estão os contratos pois, eu cidadã cabo-verdiana, quero vê-los.

CONCURSO? Como foi feito? Quais foram os critérios de escolha? Considerando que está entre o s objectivos essenciais da privatização o reforço da capacidade empresarial nacional além da participação dos cidadãos nacionais na titularidade do capital das empresas, qual a opinião da população local? E dos empresários Caboverdianos? FAÇAM-SE OUVIR!

Quem me conhece sabe o quanto desprezo a mediocridade e a péssima qualidade dos prestação de serviços deste país, que se esconde atrás da tão famosa "falta de formação", justificação com a qual não concordo. Reconheço que o atendimento melhorou, mas exijo que as coisas sejam feitas com seriedade. A população local já manifestou o seu total descontentamento, a sua revolta tendo já deixado placas à porta do restaurante do Pelourinho, com frases como:" Cidade é kâ di Daniel!!!!!!!!!!!!!!!! "
Quem será este senhor?!

Margarida Mascarenhas

1 comentário:

Paulino Dias disse...

Alô, Guida, qui tal?

Parabéns pelo teu blog (que - caramba! - só agora descubro).

Olha, tive a mesma sensação de raiva na semana passada quando estive ali na fortaleza. Esta que eu dizia ser o meu lugar preferido aqui em Santiago, e onde antes podia exercitar meu hobby de fotografias ao cair da tarde... bom, vou ter que escolher outros points para as minhas horas de pasmaceira...rs. Ah!, e nem referiste ao bar ali em frente: uma cerveja Strela que estava em promoção por 40$ na cidade é vendida ali a 120 paus (faça as contas!!!). E o grogue? Além de caro que nem um processo no tribunal, tem uma qualidade que sinceramente envergonha qualquer cana que se preza (o meu amigo Olavo, santantonense de gema e apreciador de um bom grogue, deixou-o em cima da mesa em sinal de protesto...rs).

Abraços,