quarta-feira, 27 de junho de 2007

TURISMO EM CABO VERDE: Falta visão, inovação, conceito de negócio e pessoas certas nos lugares certos

Muito se tem falado do turismo em Cabo Verde, das políticas do governo, dos Planos estratégicos, enfim uma parafernalha de coisas que têm como finalidade, garantir que termos um turismo de qualidade no país. Contudo, apesar desta boa intenção, caímos novamente num dos maiores problemas deste país: a burocracia. Papeis, estudos, seminários, work-shops, fóruns que nunca dão origem a NADA.

O sector foi eleito “ sector chave” mas nota-se que faltam acções integradas, falta estratégia, falta uma visão holistica do que seria o sector turístico. Se vir um bar, um restaurante, uma discoteca, um hotel, certamente isso é fruto de um desejo solitário e da possibilidade de alguém, que decidiu que queria e achou bom negócio empreender. Nunca será fruto de algo estrategicamente concebido que tenha por trás um conceito.

Quando se fala de conceito de negócio, estamos a falar de algo mais abrangente, directamente associado a missão da empresa.

A um dos grandes administradores da ROLEX, perguntaram como ia o mercado dos relógios, e ele respondeu que não sabia pois ele não vendia relógios, e sim, jóias que marcam horas/A Mercedes não vende carros, vende status e conforto/A VISA não vende crédito, vende possibilidades/ Os grandes hotéis não vendem quartos, vendem conforto, comodidade e tranquilidade/ Os bancos, os com visão, concretizam sonhos.

As instituições que lidam com o turismo têm um papel fundamental, na orientação do empresariado nacional, mostrando-lhes melhores alternativas e novas linhas de actuação. Temos um país localizado estrategicamente no centro dos maiores emissores de turistas, com um padrão de exigência elevado e nós continuamos com a prestar serviços medíocres. Transitar para PDM com mentalidade de subdesenvolvidos poderá ser catastrófico.

Precisamos abrir os nossos horizontes ao decidir assumir o sector turístico, como sector chave da economia nacional. Temos de ser ousados. Quem estudou o tema, conhece os desdobramentos que esta matéria poderá ter: turismo de praia, turismo de negócios, turismo culturas, turismo gastronómico, turismo de desportos náuticos, turismo de 3ª idade, enfim, e muito mais. Qual seriam os tipos que se adequam ao nosso país? Muitos diriam, praia e montanha. Eu diria: que pena, que falta de visão! Cabo Verde tem um potencial imenso, podendo abraçar diversos segmentos, considerando o facto de ser formado por ilhas com caracteristicas distintas, explorando em cada um todas as suas potencialidades e oportunidades. Isso é que seria o primeiro passo para ter-se o turismo como sector prioritário de desenvolvimento.

DEVEMOS SEGMENTAR PARA ESPECIALIZAR




Definindo o tipo de segmento que melhor se adequa a uma determinada região, iremos, certamente, optimizar recursos e tempo permitindo-nos ser mais eficientes num sector da economia extremamente dinâmico e inovador, abrindo espaço para o aparecimento de inúmeras oportunidades de negócio.

Apresentando como exemplo de oportunidade de negócio, a criação/produção de souvenirs, que por hora são inexistentes, podemos dizer que se a Ilha do Sal fazemos um barquinho com a inscrição Cabo Verde, em Santo Antão, será mais indicado termos a mesma inscrição num pezinho de cana, ou uma cabrinha, pensando em seus famosos queijos.

Relativamente à questão das lembranças, apresento como exemplo, o das Canárias, uma região fortemente marcada pelo turismo de compras e de praia, que depois se subdividem em outros, onde as ilhas tentam diferenciar-se entre si, concebendo souvenirs, e não só, feitos considerando as caracteristicas especificasde cada ilha. Na ilha de Forteventura, nas ilhas Canárias, criou-se um símbolo muito representativo desta ilha que é um cabrito, onde aparece escrito a palavra “fuerte”, forte. (http://www.cabrito-fuerteventura.com)









Os nossos decisores têm se mostrado demasiado conservadores e pouco criativos, pouco arrojados em termos de ideias, ainda que simples, apesar do tanto que viajam. O país, isso não só a nível de turismo, já não precisa de mais gente que “faça portas”. Precisamos é de cabeças criativas que concebam essas “portas”, de preferencia modernas. Precisamos de gente INOVADORA, CRIATIVA, PRATICA COM VISÃO. O desenvolvimento de Cabo Verde passa por isso, ou melhor, continua dependente disso.

Estudei numa ilha ao sul do Brasil, Florianópolis, que é referência a nível mundial como um dos paraísos dos surfistas. Acreditem que nas praias desta cidade, o comércio de pranchas, roupas desportivas, restaurantes de comida natural movimentam muito dinheiro. Eles se especializaram em este tipo de segmento e tiram grande proveito deste posicionamento.
Aqui, eu soube de um presidente de uma Câmara Municipal, que ficou rritado com surfistas que haviam solicitado um terreno para a criação de um espaço de camping, pois na sua cabeça, não passavem de um bando de desocupados que ficavam horas na água, a espera de ondas. Muitos destes eram turistas nacionais e internacionais que se deslocavam a esta localidade à procura de suas belas ondas.
Perguntemos ao Hawai e à Austrália quanto entra, anualmente, em seus cofres com este tipo de turismo? O engraçado é que, em Cabo Verde, associação de praticantes de desportos nauticos, não são convocados para a elaboração dos nossos Planos Estrategicos, o que faz com que muitas vezes se gaste rios de dinheiro em prjectos que não contemplam pontos importantes e acabem em gavetas. Chamo a isso arrogancia profissional, por parte de quem faz esses projectos. Tirem as vossas gravatas, subam montanhas, falem com a gentes, esperimente os produtos dos quais irão falar, mergulhem em nossas praias, observem seus frequantadores que certamente percebem muito mais delas do que vocês, e ai sim, entre em vossos gabinetes e iniciem os projectos.

Cargos estratégicos pura e simplesmente concedidos a “gente de confiança” muitas vezes prejudicam ao país. O que é necessário é que sejam pessoas competentes e com visão. De que servem técnicos capazes e especializados se a palavra final é de alguém que parou no tempo, e que não se esforça para perceber a dinâmica deste mundo em que vivemos?

Precisamos de instituições que sejam capazes de orientar pessoas a criarem negócios turísticos aconchegantes, atractivos, diria até, bonitos, apesar da subjectividade do tema. Como digo sempre, ninguém sai de casa para comer ou para beber. Nós saímos à procura do conceito, ou seja, da sensação boa que determinada experiência em determinado lugar nos deixa na mente. Um bar não pode ter como missão vender bebida e nem de um restaurante, vender comida. As suas missões passam por criar espaços agradáveis onde as pessoas possam permanecer por algum tempo sentindo-se confortáveis e especiais.


É necessario decidir que turismo adoptar para que região, conhecer a demanda, o perfil de quem procura, sem neglegenciar o cliente nacional, preparar as nossas instituições para prestarem orientações que vão de encontro aos objectivos pretendidos com um Plano Estratégico, de verdade, e fazer com que iniciemos uma nova época de parceria publico privado baseada na eficiência, modernidade, inovação e modernas técnicas de gestão. Estamos com um número razoável de licenciados em turismo desempregados. É como ter uma mina de diamantes e ter mineiros desempregados. Vamos raciocinar e agir estrategicamente.

3 comentários:

velu disse...

Guida,
estou a 100% contigo, com tua visão e teus considerandos. Há que haver mais gente como tu, deveras interessada no destino do nosso país, para que comece a verdadeira revolução de mentalidades! Vai em frente. A tua missão é penosa, mas importantissima e gratificante!
Beijos.

Miguel Barbosa disse...

Muito bom Guida. Só receio que não encontre eco nos nossos dirigentes (esses autistas) por várias razões:
1. Estão a viajar
2.Estão ocupados (a olhar para o umbigo)
3. Não sabem ler.
4. Não entendem o que lêm.
e por ai vai.

mon-ir disse...

Em 2006 a Unotur realizou um congresso sobre Turismo. Um dos oradores referiu precisamente à questao da marca, como: "your brand, is your promise". A mim, a questao da marca realmente me interessa. Como Cabo Verde pretende ser turistico se nao possui uma marca? Porque a unotur nao apresenta uma proposta de Marca?
Seguindo com marcas:
http://www.tenerifeamable.com/.