sexta-feira, 4 de abril de 2008

O MEDO CAUSADO PELA INTELIGÊNCIA




Quando Winston Chruchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estréia na Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o que tinha achado de seu primeiro desempenho naquela assembléia de vedetes políticas. O velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse em tom paternal:

- "Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito brilhante neste seu primeiro discurso na casa. Isso é imperdoável. Devia ter começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência que demonstrou hoje, deve ter conquistado no mínimo uns trinta inimigos. Saiba que o talento assusta."

E ali estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pode dar ao pupilo que se inicia numa carreira difícil. A maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas, é medíocre e tem um indisfarçável medo da inteligência. Isso aconteceu na Inglaterra; imaginem se fosse no Brasil...
Não é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:

Há tantos burros mandando,
Em homens de inteligência
Que às vezes fico pensando,
Que a burrice é uma ciência.

Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos e desinteressados que não revelam o apetite do poder. Mas é preciso considerar que esses medíocres astutos, oportunistas e ambiciosos, têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeira muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.

Em todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas; as panelinhas do arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos. Dentro desse raciocínio, que poderia ser uma extensão do "Elogio da Loucura" - obra de Erasmo de Roterdam, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se quiser vencer na vida.

É pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social. Assim como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota automaticamente a entrada de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência por medo de perder seus maridos...o medo, a incapacidade e a inveja, vêm disfarçados de boicote e rejeição. Também os encastelados medíocres se fecham como ostras à simples aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.

Eles conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os mais dotados realizam com um "pé nas costas", enfim, na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem problemas, os medíocres os repudiam para se defender. É um paradoxo angustiante.

Infelizmente temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência numa espécie de desvantagem perante a vida. Como é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues: - Finge-te de idiota e terás o céu e a terra.

O problema é que os inteligentes gostam de brilhar.
"Que Deus os proteja."


Este artigo foi publicado no extinto Jornal da Bahia em 23/Set/1979, mas parece que foi redigido hoje. O autor é José Alberto Gueiros

1 comentário:

Anónimo disse...

adorei...

Bjs
Sara Barreto